Sustentabilidade e Responsabilidade Social

Estou escrevendo este post com o intuito de compartilhar o aprendizado que obtive através da aula do Professor Flávio Hourneaux Junior no MBA em Gestão de Pessoas. O processo de escrever sobre o que estou estudando me ajuda a aprender mais sobre o tema e acredito que compartilhar é uma excelente forma de aprofundar o conhecimento.

Vamos ao tema…

Existem diversas pesquisas mensurando como e quanto o ser humano utiliza os recursos naturais do planeta e outras com o intuito de revelar a evolução da nossa espécie. Por exemplo, vários países estão ecologicamente em défict, ou seja, consomem mais do que produzem em termos biológicos. Outras pesquisas demonstram o excesso no consumo de água doce, que é um recurso finito, e esse assunto se torna mais relevante quando falamos de empresas que tem a água como base para produção de seus produtos. Existe também o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que procura medir o progresso do ser humano com base em três dimensões: educação, saúde e renda.

Um termo recente tem ganhado notoriedade tanto na academia como nas organizações, o Triple Bottom Line, conhecido como Tripé da Sustentabilidade em português, que procura representar a relação entre sustentabilidade e negócios. A sustentabilidade refere-se ao equilíbrio entre social (pessoas), meio ambiente (planeta) e economia (lucros e prejuízos, no caso de empresas), ou seja, a ideia é que as empresas não vão deixar de lado a visão por lucros, mas também se preocupar com questões sociais e o impacto que elas causam no meio ambiente, buscando eficiência para minimizar o uso dos recursos naturais e possivelmente “devolvê-los” ao planeta, na medida do possível. Isso tem se mostrado uma tendência global nas últimas décadas.

ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Para lutar por essa causa, a ONU, Organização das Nações Unidas, criou alguns Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e dentre eles estão:

  1. Erradicação da pobreza
  2. Fome zero
  3. Boa saúde e bem-estar
  4. Educação de qualidade
  5. Igualdade de gênero
  6. Água limpa e saneamento
  7. Energia acessível e limpa
  8. Emprego digno e crescimento econômico
  9. Indústria, inovação e infraestrutura
  10. Redução das desigualdades
  11. Cidades e comunidades sustentáveis
  12. Consumo e produção responsáveis
  13. Combate às alterações climáticas
  14. Vida de baixo d’água
  15. Vida sobre a terra
  16. Paz, justiça e instituições fortes
  17. Parcerias em prol das metas

ESG – Environmental, Social & Governance

Nesse contexto, o ESG tem sido cada vez mais discutido e o alvo é atingir os objetivos (ODS) até 2030.

  • Meio ambiente – refere-se a mudanças climáticas, biodiversidade, recursos naturais, emissão de carbono e poluição da água e do mar, entre outras interações com o meio ambiente físico;
  • Social – envolve saúde e segurança, padrões de trabalho, privacidade e segurança de dados, responsabilidade por produtos, entre outras questões que possuem impacto na sociedade e comunidades;
  • Governança – contempla diversidade e inclusão, transparência, independência do conselho administrativo corporativo, propriedade, pensamento e atitude de dono, ética e compensações executivas, assim como outras que regem o governo de empresas.

Para as empresas, um dos benefícios de se preocuparem com essas questões está na notoriedade e boa imagem que estas passam para a sociedade, inclusive algumas utilizam isto como estratégia de marketing. Existem rankings de empresas mais sustentáveis, desde os mais genéricos, como as 100 empresas mais sustentáveis, até mais específicos tratando de algum aspecto como a emissão de carbono, por exemplo. Até na bolsa de valores existe ranking para as empresas mais sustentáveis, como o ISE na B3.

Por outro lado, caso as empresas não façam nada em relação a isto, existe o termo Irresponsabilidade Social Corporativa e alguns livros escritos sobre o assunto. Também existem rankings para as empresas socialmente irresponsáveis, gerando uma imagem negativa perante a sociedade. Sociedade esta que de fato tem demonstrado preocupação e está cobrando um posicionamento melhor das empresas sobre questões que envolvem ESG.

“Comportamento antiético dos executivos que mostra desconsideração pelo bem-estar dos outros, que se manifesta ao extremo quando os executivos buscam ganhos pessoais às custas de funcionários, acionistas e outros stakeholders da organização, e até da sociedade em geral.

Irresponsabilidade Social Corporativa, definição por Pearce e Manz (2011)

Como as empresas podem trazer estas questões para o dia a dia?

A sustentabilidade e a e responsabilidade social corporativa devem fazer parte da visão estratégica da empresa para obter adesão e sucesso.

A partir do macroambiente, composto principalmente por escopos político, legal, ambiental, cultural, social e tecnológico, surgem interessados nos produtos e/ou serviços (Stakeholders) e as estratégias e modelos de negócio das empresas são criadas para atendê-los.

Hart e Milstein (2004) desenvolveram um modelo para a gestão estratégica com foco em sustentabilidade, propondo 4 visões para gerar valor para os acionistas da empresa, baseados nas visões de tempo (futuro e presente) e ambientes empresariais (interno e externo). A empresa deve responder às questões: “Quais são seus motivadores?“, “Qual a sua estratégia?” e “Qual é o retorno corporativo esperado?” para:

  • O futuro e o ambiente externo
  • O futuro e o ambiente interno
  • O presente e o ambiente interno
  • O presente e o ambiente externo

Em outras palavras, como fazer para manter e desenvolver os negócios atuais ao mesmo tempo em que se cria tecnologia e mercados do futuro?

Aquela famosa frase “em time que está ganhando não se mexe” não se aplica mais em um mercado globalizado, onde as pessoas estão cada vez mais conectadas e a evolução tecnológica por parte das empresas tem mudado constantemente a forma como se entrega valor. Essas questões levam a outras: “Quais competências preciso desenvolver internamente?“, “Quais são as competências e experiências externas à organização e que são e/ou serão importantes para o negócio?“, entre outras.

Como a área de Gestão de Pessoas pode contribuir?

A “agenda verde” é um tema relativamente novo e a área de gestão de pessoas tem grandes desafios para superar, começando por estar alinhada com a estratégia da empresa e conseguir transmitir esta visão para as áreas operacionais. Até mesmo o perfil dos candidatos desejados para trabalhar na empresa pode mudar quando ESG se torna um assunto relevante. Em resumo, o triple bottom line precisa ser considerado em todos os aspectos para que exista uma liderança sustentável. Mas como? Macke & Genari (2019) discutem em seus estudos sobre alguns aspectos a considerar:

  • Triple bottom line como orientador da gestão ao promover assuntos de sustentabilidade organizacional;
  • Atração e retenção de talentos que valorizam a sustentabilidade;
  • Desenvolvimento dos funcionários em habilidades relacionadas;
  • Manter uma força de trabalho produtiva e saudável, ou seja, com qualidade de vida e equilíbrio entre profissional e pessoal;
  • Políticas de compensação;
  • Gestão da diversidade;
  • Suporte e supervisão organizacional;
  • Gestão de carreiras;
  • Promoção de trabalhos voluntários;
  • Gestão por competências;
  • Comunicação interna etc.

“A GRH Sustentável pode ser definida como a adoção de estratégias e práticas de gestão de recursos humanos que possibilitam o alcance de metas financeiras, sociais e ecológicas, com impacto dentro e fora da organização e em um horizonte de longo prazo, enquanto se controlam os efeitos colaterais não desejados e avaliação negativa“

(Ehnert et al., 2016, p. 90)

Algumas ferramentas

  • Triple Bottom Line: pessoas, planeta, lucros;
  • ODS: 17 objetivos da ONU para 2030;
  • ESG: Meio ambiente, social e governança;
  • GRI: iniciativa global de comunicação. Principal organização que ajuda empresas a comunicar suas ações de sustentabilidade por meio de relatórios internacionais, com padrões universais e específicos;
  • International <IR> Framework: Ferramenta de comunicação global utilizada para acelerar a adoção de comunicações internacionais. Trabalho forte em padronização de relatórios contábeis e financeiros;
  • ISO 26000: certificação de responsabilidade social;
  • OHSAS: certificação de saúde e segurança no trabalho;
  • AA1000: certificação de engajamento de Stakeholders;
  • Investors in People: guia britânico sobre como valorizar os profissionais no ambiente de trabalho;

Todas as iniciativas e ferramentas são de uso voluntário (opcional), mas existe a expectativa de que em breve seja algo obrigatório para muitos setores.

Comparação entre foco organizacional ao considerar o tema

Antes

  • Maximizar lucro
  • Crescer receita, mercado e consumo
  • Curto prazo
  • Econômico
  • Acionistas
  • Internalização

Depois

  • Otimizar lucro
  • Crescer, manter ou diminuir dependendo do impacto
  • Longo prazo
  • Equilíbrio econômico, social e ambiental
  • Stakeholders
  • Externalização

Adaptação de Laasch e Conaway (2015)

Ainda existem empresas que pensam da forma antiga e elas devem existir ainda por um bom tempo. Contudo, demorar para se adequar a nova realidade pode trazer sérios problemas no futuro, tanto jurídicos quanto de sobrevivência da marca/empresa, entre outros.

Referências utilizadas em aula

  • Ehnert, I.; Parsa, S.; Roper, I., Wagner, M. & Muller-Camen, M. Reporting on sustainability and HRM: A comparative study of sustainability reporting practices by the world’s largest companies. The International Journal of Human Resource Management, v. 27, n. 1, pp. 88-108, 2016.
  • Galleli, B. & Hourneaux Junior, F. , Munck, L. (2019) Sustainability and human competences: a systematic literature review, Benchmarking: An International Journal, https://doi.org/10.1108/BIJ-12-2018-0433
  • Galleli, B. & Hourneaux Junior, F. (2021), “Human competences for sustainable strategic management: evidence from Brazil”, Benchmarking: An International Journal, Vol. 28 No. 9, pp. 2835-2864. https://doi.org/10.1108/BIJ-07-2017-0209
  • Hart, S. L. & Milstein, M. B. Criando valor sustentável. RAE Executivo, v. 3, n. 2, p. 66–79, maio/jul. 2004.
  • Hourneaux Junior, F. & Caldana, A.C.F. (2017). Gestão Responsável: Responsabilidade, Ética e Sustentabilidade a partir do PRME (Principles for Responsible Management Education). ORGANICOM (USP) , v. 14, p. 166-180, 2017.
  • Jabbour, C. J. C., & Santos, F. C. A. (2008). The central role of human resource management in the search for sustainable organizations. The International Journal of Human Resource Management, 19(12), 2133-2154.
  • Laasch, O. & Conaway, R. (2015). Fundamentos da Gestão Responsável. São Paulo: Cengage Learning.
  • Pearce, C. & Manz, C. (2011). Leadership centrality and corporate social ir-responsibility (CSIR): the potential ameliorating effects of self and shared leadership on CSIR, Journal of Business Ethics, Vol. 102 No. 4, pp. 563-579.
  • Macke, J. & Genari, D. (2019). Systematic literature review on sustainable human resource management. Journal of cleaner production 208, 806-815.

1 comentário Adicione o seu

  1. Manuel Augusto Conceição disse:

    Parabéns 👏👏👏

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